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Como líderes automotivos obtêm ganhos com o MOVER

Por Vinicius Brandão, membro do BRAIN



O artigo a seguir discute o Programa MOVER (Mobilidade Verde e Inovação) sob a perspectiva das relações de poder no mercado automotivo. Vinicius Brandão utiliza conceitos de Neil Fligstein para explorar como o programa promove a inovação tecnológica, mas reforça dinâmicas de exclusão e hierarquias consolidadas no setor.




O Programa MOVER (Mobilidade Verde e Inovação) pode ser interpretado não apenas como um incentivo econômico para inovação e eletrificação do setor automotivo, mas como uma estrutura que reafirma e organiza as relações de poder já estabelecidas no mercado. A partir de "mercados como política" (Flisgtein, 1996), podemos entender o MOVER como um campo institucional onde normas, recursos e vantagens competitivas são moldados por atores poderosos, consolidando a hegemonia de empresas estabelecidas e dificultando a entrada e a ascensão de novos concorrentes.


Empresas tradicionais do setor, como Toyota, Renault, Volkswagen e General Motors, possuem infraestrutura, capital e conhecimento prévio que lhes permitem atender aos requisitos custosos do programa com relativa facilidade. A capacidade dessas corporações de absorver rapidamente os custos de adaptação e de participar ativamente em redes institucionais as coloca em uma posição dominante dentro do MOVER, que, embora formalmente aberto a todos, na prática se mostra mais acessível para aqueles que já detêm o poder econômico e organizacional. Assim, o MOVER pode ser visto como um meio de estabilização do mercado, onde o Estado atua como um facilitador para a manutenção de normas e estruturas que sustentam as empresas já consagradas.


Para entender o impacto do MOVER sob essa ótica, é fundamental analisar como as condições impostas pelo programa, como grandes investimentos em pesquisa e desenvolvimento e a necessidade de cumprir requisitos técnicos rigorosos, acabam funcionando como barreiras para novos entrantes. Deste ponto de vista, essas exigências podem ser interpretadas como mecanismos de "exclusão social" dentro do campo econômico: elas limitam o acesso dos novos atores que poderiam desafiar o status quo do setor. Empresas emergentes e desafiantes, que normalmente possuem menos capital e recursos, enfrentam dificuldades desproporcionais para competir, consolidando a concentração de poder nas mãos dos atores que já dominam o mercado.


Esse fenômeno reflete um processo de "homogeneização do campo", onde as empresas menores, ao tentar sobreviver em um sistema regulado pelos critérios do MOVER, se veem forçadas a alinhar suas práticas e estratégias às exigências ditadas pelos líderes do setor, o que reduz a diversidade de abordagens e estratégias dentro do mercado. Essa homogeneização, portanto, não apenas fortalece a posição das empresas dominantes, mas também define quais práticas são vistas como legítimas e viáveis, limitando a inovação fora do modelo proposto pelas grandes corporações.


Sob esse prisma, o MOVER se transforma em um campo de disputa em que, mais do que pela inovação, as empresas estabelecidas competem pela definição das “regras do jogo” no mercado automotivo, assegurando o controle sobre recursos econômicos e os benefícios oferecidos pelo programa. Vemos em Fligstein (2001) que empresas dominantes no mercado buscam continuamente estabilizar suas posições, criando concepções de controle que estabelecem normas e práticas consideradas legítimas. No caso do MOVER, essas concepções de controle se manifestam nas alianças estratégicas das grandes montadoras com entidades influentes, como a ANFAVEA. Essas parcerias não só consolidam sua posição de “legitimidade técnica” no setor, mas também reforçam seu papel como definidoras de quais práticas são viáveis e inovadoras. Dessa forma, as empresas estabelecidas moldam as percepções sobre inovação e limitam o espaço para novos entrantes, perpetuando uma estrutura de mercado que favorece sua hegemonia e limita a mobilidade de desafiantes.


Em conclusão, o Programa MOVER evidencia como estruturas econômicas e políticas servem não apenas para fomentar a inovação, mas também para fortalecer hierarquias já existentes, conferindo vantagens competitivas às empresas consolidadas. Embora a intenção do programa seja promover uma transição para tecnologias mais limpas e uma mobilidade sustentável, sua implementação atual pode estar favorecendo uma estabilização de poder que restringe a diversidade e as oportunidades de ascensão de novos atores, perpetuando, assim, um mercado que reflete mais a lógica de hegemonia e controle do que de inovação inclusiva.





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